Deion Sanders defende teto salarial no futebol universitário
No modelo atual, montar programas competitivos fora da elite financeira parece cada vez mais improvável.
Quando tudo era amador
Por décadas, o futebol universitário (college football) foi construído sobre a ideia do amadorismo. Os atletas recebiam bolsas de estudo e, em troca, representavam suas universidades. Era uma troca simbólica — lucrativa apenas para as instituições. Jogos lotados, contratos milionários de TV, treinadores com salários astronômicos… e atletas que não podiam sequer lucrar com a venda da própria camisa.
Mas essa realidade começou a ruir com decisões judiciais e pressões públicas. O ponto de virada veio com a liberação do NIL (Name, Image & Likeness), que passou a permitir que atletas universitários recebessem dinheiro por uso de imagem — via campanhas publicitárias, redes sociais, aparições, entre outros. A mudança, inicialmente vista como uma correção de rota, rapidamente se transformou em um novo desequilíbrio.
Do zero ao caos em poucos anos
Programas mais famosos — como Alabama, Georgia, Texas e USC — passaram a oferecer oportunidades de NIL muito mais atraentes. Recrutar jogadores se tornou um jogo de influência e dinheiro.
Deion Sanders, técnico de Colorado e uma das figuras mais midiáticas do esporte universitário, trouxe à tona uma proposta polêmica: estabelecer um teto salarial no futebol universitário. Durante o Big 12 Media Days — evento anual que reúne treinadores, atletas e dirigentes das universidades da conferência para entrevistas e projeções da temporada — ele foi direto ao ponto:
“Gostaria que houvesse um teto… É assim que a NFL funciona.”
Em outras palavras, Sanders defende a criação de um limite para o quanto os atletas podem receber em acordos NIL — como forma de equilibrar a competitividade entre universidades e reduzir a disparidade entre programas.
Teto salarial no futebol universitário: como seria?
A proposta levanta mais perguntas do que respostas. Um teto total por equipe? Um valor base por atleta, com faixas variando por posição, talento ou tempo de casa? Quem administraria esse sistema — a NCAA, as conferências ou uma entidade independente?
Mais: se há teto salarial, há vínculo profissional? E se há vínculo, os jogadores seriam considerados empregados? Teriam contrato coletivo ou um sindicato como na NFL? A discussão envolve estrutura, direitos, deveres e a relações jurídicas. E há também o dilema filosófico: regular significa proteger a competitividade — ou limitar a autonomia do atleta em gerar renda?
O que está em jogo
O NIL abriu portas importantes, mas também expôs o abismo financeiro entre os programas. Um teto salarial não resolve tudo, mas impõe uma pergunta difícil de se fazer: qual é, afinal, o modelo de liga que o futebol universitário quer ser?
A ironia? Há apenas cinco anos, qualquer sugestão de pagar atletas era considerada um escândalo. Agora, fala-se em regulamentar o mercado — como se o futebol universitário fosse, enfim, uma liga profissional.